sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Flores em Vida para a Cigarra Noturna

Não é vaidade, Nelson, não é.

Querias tanto as flores em vida, estou aqui, oferendo-te. Apesar de já te chamares saudade há mais de 20 anos, não morres, nem morrerás, fazes parte dos imortais, aqueles que vivem para sempre na mente e no coração daqueles que sabem sentir.

São tantos aqueles que são chamados de poeta em vão, somente por escreverem de forma rebuscada, procurarem palavras para sua obra que o povo não conhece. Julgam-se e dizem-se intelectuais. Mal sabem eles que a sabedoria maior está na rua. Desconhecem eles o vasto aprendizado que só o botequim pode proporcionar.



A simplicidade sempre foi teu ponto mais forte. Escrevia de forma clara, mensagens francas e destemidas. Politicamente correto é hipocrisia. Deixaste sempre essa faceta para os fingidos intelectuais. Bebeste demais, foste o rei das calçadas, o poeta dos cabelos cor de prata, a cigarra noturna. Títulos sem importância. Importante mesmo foi tua obra. Uma obra de verdade. Tocaste um violão jamais visto, nunca aparecerá nada igual. Compuseste para grandes intérpretes da música brasileira, mas isso representa tão pouco da tua obra. Grande parte permanece desconhecida. Melhor assim. Deixa para quem realmente se importa. Muitos são os feras...

Mangueirense diferente, amava, mas não se aproximava muito. Pobre no bolso, rico na imaginação. Fúnebre, triste, amargurado. Quem se importa? A tristeza é muito mais bonita do que a felicidade. Música alegre não é bonita, é simplesmente alegre. E sabias disso melhor que qualquer um. Cantaste a tristeza como nenhum outro. Quando resolveu falar de felicidade, precisou apenas de míseros 6 versos para organizar uma festa e mostrar que a felicidade pode sim ser bonita. É que os outros, os ditos intelectuais, não sabem fazer isso acontecer.

Deixo aqui minha gratidão, minha eterna gratidão, pelas mil serenatas que embalaste com teu violão, sempre colado ao teu peito tão amargurado. Nunca presenciei uma, não preciso. Mais uma vez, é melhor assim. Deixa que a imaginação trabalhe.

Um brinde ao centenário de Nelson Antônio da Silva, o Nelson Cavaquinho.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Momento supremo de um cervejeiro

Sabe aquele momento que fica guardado pra sempre na memória? Por mais tempo que passe, às vezes ele volta ao pensamento e é praticamente possível reviver aquele momento apenas na lembrança...

Para um flamenguista, esse momento pode ser o gol de falta do Pet. Para um tricolor, o gol de barriga do Renato e por assim vai. Usei essa analogia somente pra ficar mais fácil de imaginar a força do momento que estou aqui tentando descrever. Para um apreciador de cervejas, esse momento é dar um gole na inesquecível Westvleteren Abt 12.

Sem entrar em grandes volteios históricos, a Westvleteren é uma cerveja produzida na abadia trapista de Saint Sixtus of Westvleteren, localizada na cidade de Vleteren, oeste da Bélgica, próxima à fronteira com a França. As abadias são monastérios, onde, obviamente, vivem os monges, que produzem e vendem cervejas e queijos como forma de sustento do monastério. Ser uma abadia trapista significa ter um selo de qualidade, existem somente 7 abadias trapistas no mundo* (6 na Bélgica e 1 na Holanda), informando que aquela cerveja foi produzida por um desses poucos monastérios.
*Recentemente foi veiculada a criação da oitava abadia trapista, esta localizada na França.

A abadia Saint Sixtus tem 3 tipos de cerveja: Westvleteren Blone (ou 6), Westvleteren 8 e Westvleteren 12. A diferença de característica entre elas se dá pela coloração (que vai escurecendo) e graduação alcoólica (que vai aumentando). Porém, mesmo que as 6 e 8 sejam muito elogiadas e bem conceituadas, a grande estrela é mesmo a Westvleteren Abt 12.

A primeira impressão da cerveja é essa da imagem acima. Não há rótulo! Realmente não há. A única coisa que identifica essa cerveja é a tampinha, amarela, com a marca da abadia e a numeração da cerveja. As outras 2 cervejas da Westvleteren possuem tampinhas de coloração diferente: verde para a 6 e azul para a 8.


Fui ao Delirium Café** decidido a tomar a Westvleteren Abt 12, após muito ler e ouvir sobre ela. Cerveja elogiada por todos que a provaram, presente no topo de todos os rankings sobre cerveja. Será que era isso tudo mesmo? Estava disposto a pagar pra ver. Literalmente. A simpática garrafinha sem rótulo e com sua charmosa tampinha amarela, contendo singelos 330ml, custa a bagatela de R$170. Mas eu precisava, era uma questão de honra. Não me sentiria um bom bebedor até que cometesse esse "pecado".
**Delirium Café - localizado na Rua Barão da Torre, 183 - recentemente ganhou merecidamente o prêmio da Veja Comer & Beber como melhor carta de cervejas do Rio de Janeiro.

Após levar o susto do preço e o susto da garrafa sem rótulo (é um susto para um colecionador de rótulos, vai?), era chegada a hora. Sério, eu estava ansioso, de verdade, senti frio na barriga e tudo...
Após vertido o líquido viscoso nos 3 copos (claro que eu dividi esse "prejuízo" com os amigos Gabriel Cavalcante e Ricardo Brigante), o cheiro já se espalhava pelo ambiente, nem precisava chegar perto.


Não vou também entrar em grandes detalhes sobre o gosto dessa cerveja porque a complexidade é imensa. A cada gole que eu dava, era um novo gosto que eu sentia, cada ingrediente, cada componente. O que exatamente? Não sei. Sei que tinha caramelo, tostado, frutas vermelhas, mas o resto não sei... O que eu sei é que toda vez que lembro dessa cerveja, que vejo uma foto, um comentário, eu sinto o gosto dela na minha garganta. Uma coisa incrível, um momento inesquecível e um sabor também inesquecível.

Sem sombra de dúvidas é a melhor cerveja que eu já bebi. Guardo com afinco sua tampinha em meio à minha coleção de rótulos. É a única exceção, mais do que justa, necessária. O dinheiro? Sim, foi bastante, acho que não faria novamente essa loucura, mas valeu. Com certeza, valeu!

sábado, 2 de julho de 2011

A Banalização do Samba

O termo samba hoje é que nem "coisa", serve para caracterizar todo e qualquer som oriundo de um grupo de pessoas tocando cavaquinho, pandeiro e outros instrumentos mais.

Qualquer grupo de pagode dos mais xexelentos acopla o termo samba ao seu nome, tem até grupo de axé colocando samba no nome. Talvez isso seja resultado da proliferação quase que em escala de mitose que existe  entre esses grupos. Sendo assim, fica muito difícil achar um nome decente, então eles seguem com um nome indecente mesmo.

Mas o que é o samba? Qual diferença entre samba e pagode? Onde fica o limite entre o samba e o pagode?
A resposta é simples. Se você conhece o samba e a sua história, suas glórias e seus compositores, suas lutas, seu fundamento e seus intérpretes, samba e pagode são a mesma coisa. Se você não conhece nada disso e acha que a Beth Carvalho é a madrinha do samba e é o máximo de "raiz" que você consegue chegar, então, pra você, tem muita diferença entre samba e pagode.

Quem abrir o dicionário em busca do significado real de pagode irá encontrar algo do gênero: farra, divertimento, reunião musical, etc. Ou seja, qualquer reunião onde haja música e alegria é pagode, seja ela uma reunião de samba, jazz, rock ou sertanejo - é pagode!

Quem abrir o dicionário em busca do significado de samba irá encontrar coisas como: dança africana comum no  Brasil, ritmo musical e cultural brasileiro, etc. Ou seja, tem história, não brotou hoje no rádio (aliás, no rádio é quem não tem mesmo hoje em dia), tem tradição, é cultura.

Resumindo, eu posso chamar uma roda de samba de pagode, mas você que não entende lhufas disso, não. Você não pode! Você tem a obrigação de chamar de roda de samba. Nada de sambinha, isso é coisa de Zona Sul e Lapa. É samba!

Mas tome cuidado! O contrário não é válido. Uma roda de pagode não pode ser chamada de roda de samba, isso é um pecado crucial, cometido por muitos. Mas como saber? Realmente é muito subjetivo, quem conhece sabe diferenciar facilmente, mas quem não conhece acaba sendo enganado pelos falsários.

Um técnica infalível é olhar para os instrumentos musicais. Tem banjo, reco-reco de metal ou repique de mão? É pagode! Perigo! Sai fora daí! Tem tantã, pandeiro de nylon e chocalho de ovinho? Sinal amarelo, preste atenção! Isso pode ser apenas um desavisado com um instrumento errado dentro de uma roda de samba. Esse sujeito pode te assolar a noite inteira.

Outra técnica infalível é a vestimenta dos músicos. Calças rasgadas, gel no cabelo, uniforme igualzinho? Fuja! Chapéu Panamá? Idem ao sujeito do chocalho do ovinho. Tome muito cuidado com esse sujeito. O que acontece em 95% dos casos é que esse cara não sabe nada de samba, mas finge ser sambista desde criança. Se perguntar quem foi Noel Rosa pra ele é capaz dele achar que é só um túnel em Vila Isabel... nos outros 5% dos casos, esse cara pode ser um malandro de verdade e muito respeitado. Por isso, analise bem.

Começou a tocar o samba. A primeira música é do Cartola. Opa! Bom começo. Mas cuidado, não se engane. A próxima pode ser do Negritude Júnior. Não, eu não estou exagerando. Presenciei exatamente isso ontem na Lapa. Onde mais poderia acontecer tamanha atrocidade? Coitado do Angenor...

Portanto, se você quer conhecer o samba, procure alguém que conheça. Não entre em "sambas" sozinho. É perigoso. Você pode comprar gato por lebre e sair achando que Fundo de Quintal é samba. Tem muito impostor por aí.

Dicas certas são procurar por rodas lideradas por Teresa Cristina, Alfredo Del Penho, Pedro Miranda, Pedro Amorim, Pedro Paulo Malta e alguns outros. O Trapiche Gamboa é ótima pedida e o Samba da Ouvidor é a melhor roda de samba do Rio de Janeiro. Mas, por favor, só vá ao Samba da Ouvidor se você quiser realmente escutar o samba e entender mais sobre ele. Não vá só pra beber e fazer uma "pré night". Seja consciente e deixe quem gosta de samba apreciar o samba. Não atrapalhe o programa dos outros.

Um beijo revoltado,

Guilherme Bieler

domingo, 19 de junho de 2011

Teste Cego de cervejas de grande mercado brasileiras

Desde que comecei a mergulhar no mundo das cervejas importadas e nacionais artesanais, reparo muito mais na qualidade da cerveja, no prazer que ela proporciona ao ser bebida, e não somente na sensação boa de refrescância que ela traz, por estar estupidamente gelada, como se costuma pedir.

Inclusive beber uma cerveja extramamente gelada é uma das maneiras de enganar o consumidor, visto que desta forma a língua fica anestesiada em decorrência da baixa temperatura do líquido ingerido, fazendo com que não se sinta plenamente o gosto da cerveja, mas isso é conversa pra outro momento.

Enfim, por causa dessa necessidade de exigir mais qualidade da cerveja foi que resolvi fazer um teste cego com as cervejas de mercado, aquelas que encontramos com grande facilidade nas prateleiras de supermercados, vemos propagandas na televisão, em jornais, etc.

A curiosidade era saber se estamos sendo preconceituosos ou levados pelo marketing agressivo das grandes cervejarias. Será que ao exigirmos que a cerveja de um churrasco seja uma Brahma, uma Bohemia ou uma Antarctica, estamos agindo de forma natural ou de forma tendenciosa? Por que não uma Cintra, uma Crystal, uma Bavaria? Será que elas são tão ruins assim? Ou será que são, somente, cervejas de menor poder de marketing agressivo e que, com isso, acabam sendo rotuladas como de pior qualidade?

Para acabar com essa dúvida, foi montado o seguinte esquema: 7 foram os voluntários a beber 12 cervejas de grande acesso no Brasil, sendo elas Antarctica, Bavaria, Bohemia, Brahma, Cintra, Crystal, Devassa, Heineken, Itaipava, Nova Schin, Skol e Sol.


Metodologia:
Foram compradas 2 latas de cada cerveja participante do teste cego. Os sete participantes, então, foram divididos em 2 grupos. O grupo 1, composto por Filipe Verissimo, André Brand, Breno Scorza e Marcos Tadeu, foi servido pelo grupo 2.
Desta maneira, foram colocados 12 copos na frente dos 4 voluntários, que beberam todas as cervejas, marcando seus atributos, tais como cristalinidade, coloração, amargor, gosto e aroma, dando uma nota geral ao final, bem como tentando adivinhar de que cerveja se tratava.

O mesmo procedimento foi adotado novamente, desta vez o grupo 2, composto por Marcelo Villela, Guilherme Bieler e João Victor, foi servido pelo grupo 1.
 


Características avaliadas:
Cristalinidade (cerveja cristalina ou turva) / Coloração (amarelo claro, amarelo ouro ou alaranjada) / Corpo (aguada, leve ou forte) / Amargor (amarga, alcoólica ou normal) / Aroma (bom, ruim ou alcoólico).

Eis os resultados obtidos:

Classificação por características:
Antarctica - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e alcoólico, aroma ruim.
Bavaria - cerveja cristalina, de cor amarelo ouro, sabor leve e normal, aroma bom.
Bohemia - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor forte e normal, aroma bom.
Brahma - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e amargo, aroma bom.
Cintra - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e normal, aroma bom.
Crystal - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e normal, aroma ruim.
Devassa - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e normal, aroma ruim.
Heineken - cerveja cristalina, de cor amarelo ouro, sabor forte e amargo, aroma bom.
Itaipava - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor leve e normal, aroma ruim.
Nova Schin - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor aguado e normal, aroma bom.
Skol - cerveja cristalina, de cor amarelo claro, sabor aguado e normal, aroma bom.
Sol - cerveja cristalina, de cor amarelo ouro, sabor leve e normal, aroma ruim.

Classificação por nota final (média entre as notas dos 7 participantes):
1- Heineken (7,71)
2- Sol (7,25)
3- Bohemia (6,64)
4- Brahma (6,01)
5- Crystal (5,83)
6- Nova Schin (5,76)
7- Devassa (5,71)
8- Itaipava (5,67)
9- Skol (5,64)
10- Bavaria (5,50)
11- Cintra (5,36)
12- Antarctica (4,99)


Percepções:

1) A dificuldade em diferenciar as cervejas foi enorme. Elas se parecem em muitos aspectos. Pode-se criar grupos, porém entre eles fica muito complicado de saber qual é cada cerveja.
A única cerveja de fácil identificação foi a Heineken, a qual foi acertada por 6 dos 7 participantes. Essa cerveja foi colocada de propósito neste teste, exatamente para saber se ela seria a destacada.
A Heineken não pode ser colocada no mesmo bolo que as demais cervejas deste teste, por se tratar de uma real Pilsen, ao contrário das brasileiras testadas, que tratam-se de Standard American Lagers, cervejas mais fracas e com menos amargor.

2) O marketing realizado pela indústria cervejeira de massa influencia, e muito, a decisão do consumidor.
Cervejas cohecidas como top de linha do mercado de massa, como Antarctica e Skol ficaram no último escalão da classificação deste teste cego, enquanto que Sol, Crystal e Nova Schin, comumente olhadas com preconceito e desconfiança, encontraram seu lugar entre as primeiras neste teste.

3) O nível das cervejas brasileiras é extremamente baixo e, felizmente, fizemos uma rodada com 14 garrafas trapistas pra alegria geral da nação!

Se alguém discordar dos resultados deste teste, podemos realizar uma contra prova, mas daqui a um tempinho. Não sei se tenho paciência de passar por esse processo todo novamente...

Um abraço!

domingo, 29 de maio de 2011

Curso de Produção de Cerveja Caseira

Ontem, 28/05, foi um dia extremamente especial. Acompanhado pelos amigos de longa data Bruno Kuhl e Marcelo Villela, vulgos Batata e Porco, realizei o tão esperado Curso de Produção de Cerveja Caseira.

Como muitos sabem, sou um aficionado pelas cervejas importadas e artesanais. Estou, inclusive, escrevendo uma monografia sobre o assunto e um futuro nesse ramo não é algo fora das minhas espectativas, mas ainda há muito para se levar em consideração. A realização do curso pode ter sido o primeiro passo para que essa ideia comece a sair da cabeça e ir para a prática.

Nosso professor foi o Leonardo Botto, fundador e presidente da ACerva Carioca (Associação de Cervejeiros Artesanais Cariocas), também dono da Botto Bier e consultor de cervejas. O local foi um grande e belo sítio na Estrada do Joá, onde o curso se dividia na parte teórica, realizada dentro de um grande salão, e na parte prática, do lado de fora.


O início foi às 9 da manhã, pontualmente, e o término foi às 9 da noite. 12 horas ininterruptas falando e aprendendo sobre o processo produtivo caseiro de cerveja. A parte da manhã foi recheada de conhecimentos teóricos e de história da cerveja. Além disso, tivemos uma breve noção da quantidade e da diversidade de equipamentos necessários para tal. Foi o primeiro ponto de impacto. Mas tudo pode ser contornado com um pouco de criatividade e improviso.

Às 11hs tivemos nosso coffee break, recheado de linguiças, dando-se início à degustação de cervejas.
Botto levou 5 galões de chopp artesanais: uma Rauchbier (cerveja defumada, preparada pela última turma que realizou o curso), uma Pilsener, uma Pale Ale, uma Schwartzbier e uma Weizen (essas 4 preparadas por ele). Um total de 160 litros de chopp, mais as cervejas de garrafa que ainda foram distribuídas ao longo do dia.


No momento em que a água que estava na caldeira chegou à temperatura desejada, é hora de despejar os grãos de cevada que foram previamente moídos. Feito isso, fizemos a brassagem, etapa importante, onde se homogeiniza a temperatura da mistura (água e cevada), criando-se o mosto, um líquido adocicado e, obviamente, quente, parecendo um chá.


A tarde começava e a teoria continuava, sempre acompanhada de cerveja. Hora era uma de trigo, hora era uma escura de malte torrado, hora uma Pale Ale... 


Botto continuou a nos explicar as centenas de milhares de variáveis que existem no processo produtivo, gerando muitas dúvidas e muitas incertezas se seria realmente viável. Mas, depois, a prática sempre vinha para dar uma aliviada na tensão e nas dúvidas que surgiam.
Resumindo: a prática é muito mais simples que a teoria. A base teórica é extremamente importante para quem quiser crescer no mercado, mas para produção caseira, um bom conhecimento da prática basta.
Começamos, então, o processo de filtragem do mosto. Ao fim desse processo, todo o cereal utilizado (seja ele cevada, trigo, arroz, aveia, milho, etc) fica depositado na panela e é retirado, ficando apenas líquido e um resíduo, que sofre uma refiltragem para ser totalmente retirado.


Após o processo de filtragem, é hora de se adicionar o(s) lúpulo(s) desejado(s) para conferir sabor, aroma e amargor. O lúpulo usado, normalmente, não é em flor, mas sim em pellets, para facilitar a absorção.
A figura do lúpulo peletizado segue abaixo, apenas a título de curiosidade.


Depois da extração das características do lúpulo, realiza-se um resfriamento, via chiller improvisado de tubo de cobre enrolado, formando uma serpentina. Entra a água fria por um lado e sai água quente pelo outro, resfriando mistura.

Depois de resfriada a mistura, é hora de retirar o líquido que já possui cor e aroma característicos. A extração é feita pela torneira existente na parte de baixo da panela, diretamente para um balde.


Depois disso, é hora de adicionar o fermento. Ali mesmo, no balde.


A fermentação é a parte mais importante da produção da cerveja e, curiosamente, é a que precisa de menos interferência humana. São as leveduras que vão trabalhar agora. Vão se alimentar dos açúcares existentes na mistura, produzindo álcool. De todo modo, é uma parte que necessidade bastante controle e atenção, a contaminação é perigosa e iminente, e existe um tempo adequado para manter a mistura fermentando. A análise da quantidade de açúcar ainda existente na mistura é necessária, pois quando acabar o açúcar, acaba o alimento das leveduras e é hora de passar para a fase de maturação.
Porém, como o processo de fermentação demora, em média, 6 ou 7 dias, teremos que esperar para saber como ficou nossa American Indian Pale Ale.


Após o término da fermentação, o período de maturação ainda levará cerca de 2 semanas, portanto somente daqui a umas 3 semanas seremos chamados pelo Mestre Cervejeiro Leonardo Botto para provarmos a receita.

Sumário do dia e do curso: o aprendizado é excelente, a vontade que fica é de começar a fazer a própria cerveja, as dúvidas ainda são muitas, mas o material de apoio e o contato do próprio Botto estão aí pra ajudar e o mais importante de tudo - ficar em pé no final não é tarefa pra qualquer um! Haja cerveja!

Muito obrigado aos amigos Porco e Batata pela companhia, mesmo que embriagada. Muito obrigado ao Leonardo Botto pelos ensinamentos.



E agora é partir pra análise de equipamentos e de lugar pra colocar essa tralha toda.
Depois é só começar a fazer nossas cervejas próprias!

sábado, 14 de maio de 2011

Vagão Beer and Food - Próxima Estação: Itaipava

Escrevo hoje sobre o melhor lugar para se tomar cerveja no estado do Rio de Janeiro, em minha opinião. Chama-se Vagão Beer and Food, localizado no Shopping Estação, em Itaipava-RJ. Talvez até existam outros lugares com uma carta tão vasta quanto ou maior, ou com mais raridades ou especialidades, mas o que vale lá é o conjunto.

Uma cerveja precisa de um bom acompanhamento para ser degustada. Não é só sair bebendo. E são poucos os lugares que conseguem combinar tão bem o que se come e o que se bebe.

Além da imensa variedade, onde encontram-se cervejas de todos os cantos do mundo: Bélgica e Alemanha lideram a lista de variedades, mas há especiais brasileiras, argentinas, uruguaias, holandesas, australianas, americanas, canadenses, gregas, lituanas, francesas, inglesas, irlandesas, mexicanas, japonesas e algumas outras.



Para acompanhar, os petiscos também são divididos por países. Pode-se pedir comidas típicas de vários países do mundo, como a carne seca acebolada brasileira, o mix de salsichas alemãs, os bolinhos de bacalhau portugueses, steaks australianos, costelas inglesas, chorizo argentino e muitos outros.

O ambiente é outro atrativo à parte. O restaurante tem uma parte "normal" e outra que simula um vagão de trem. Simula não, é um vagão de trem de verdade localizado dentro de um shopping! As mesas ficam nas laterais do vagão, com um corredor central por onde os garçons de movimentam. Esse ambiente faz toda a diferença, faz você se sentir num lugar realmente distinto, onde não se pode ir todos os dias.

O preço, como em todos os lugares que disponibilizam uma vasta carta de cervejas, é elevado, mas vale muito a pena conhecer. Esse lugar será, com certeza, visitado por mim em todas as oportunidades que tiver.

http://www.vagaobeer.com
Estrada União Indústria, 11.000 - Loja 105 A - Itaipava-RJ
ou
Avenida Lúcio Meira, 855 - Teresópolis-RJ

quinta-feira, 5 de maio de 2011

À caça no Otto

Fui ao Otto com minha digníssima conhecer a tal da Temporada de Caça. Pra alguém que gosta de carnes de caça, como eu, já estava mais do que na hora.

O evento segue a tradição da Alemanha e da Suíça e consiste em trazer carnes pouco usuais nos cardápios cariocas, como javali, capivara, codorna, rã, lebre, marreco, cateto, queixada, paca e até jacaré.

Os valores são um tanto quanto salgados e, por isso, não deu pra desfrutarmos de tudo que gostaríamos. Resolvemos, então, partir pra um esquema de uma entrada e 2 pratos individuais, onde cada um comeria a metade. É sempre uma tática interessante. A quantidade fica boa e dá pra provar uma variedade maior.

A entrada escolhida foi uma carne, muitas vezes, negligenciada. Eu, inclusive, nunca havia provado carne de rã. Um absurdo! Absurdo mesmo porque a carne agradou bastante. Branquinha como a de frango, porém mais leve e suave.

Elas (eram 2) vieram desmembradas e com um molho muito gostoso. Ótima pedida: Rã à Dusseldorf - frita na manteiga com molho de gengibre, mel e vinagre.

Depois partimos pra escolha dos pratos principais. A minha escolha foi "jogo rápido". Quando vi o filé de javali dando bobeira, não pensei duas vezes. E, sem dúvidas, pra mim foi o melhor de tudo. A carne de javali é umas das mais gostosas que existe. Parece com a de porco, mas é menos gordurosa e macia. Bom demais. Filé de Javali ao molho de funghi, manteiga e ervas com arroz à piamontese.


Já a Samylla teve um pouco mais de trabalho na escolha. E, no final, mandou muito bem também. Apesar de não ser carne de caça, babe beef é sempre babe beef. A foto abaixo engana um pouco, dá a impressão de queimado, mas nada disso! Estava muito bem cozido ao ponto e com o grande chamariz de um arroz de cheddar, que eu nunca havia visto em restaurante algum. Para 2 queijólatras, praticamente uma obrigação pedí-lo.
Babe Beef com arroz de cheddar.


Enfim, se puderem ir ao Otto para conhecerem a Temporada de Caça, ela acontece até o dia 15/05 e vale muito a pena. O Otto é um lugar extremamente agradável e com boa música (não é sempre que tem), o que é um fato raríssimo hoje em dia... O preço é sim um pouco salgado, mas a experiência é válida.
Endereços:
Rua Uruguai, 380 - Tijuca
Estrada da Barra da Tijuca, 1636 - Espaço Itanhangá - Barra da Tijuca

sábado, 30 de abril de 2011

Nadal e o saibro

Hoje segue minha primeira postagem sobre tênis. Nada mais pragmático do que falar sobre Rafael Nadal, mas é assim que vou começar.




Rafael Nadal é um chato. Por mais que eu, como saibrista que tentei ser, admire seu jogo, sua força e sua raça, já deu, né? Tudo que fica fácil demais de ser imaginado, se torna tedioso.

Estar diante de um tenista que pode ser considerado como o maior jogador de saibro da história pode ser positivo por um lado. Existe aquela frase batida que diz: “Vou poder contar para os meus netos que vi o Nadal, o maior de todos os tempos no saibro, jogar”. Legal, vai mesmo. Mas isso também é negativo por outro lado. A previsibilidade tira a emoção do esporte, tira a vontade de assistir. Saber que Rafael Nadal estará em quadra num torneio no saibro, seja ele Roland Garros, Monte Carlo, Roma, Madrid ou outro qualquer, significa que você vai assistir, muito provavelmente, a um massacre. Em outras superfícies pode até ser que você tenha alguma chance de ver o espanhol perder, mas no saibro está difícil.

Entendam, por favor, existem muitos ”anti-Nadal” por aí, pessoas que dizem ser feia maneira de jogar do espanhol, dizem ser um golpeador, um defensivo, um covarde, um anti-tênis clássico. Não é o meu caso, não torço contra ele, mas confesso que gostaria de um pouco mais de equilíbrio.

Nadal tem apenas 24 anos e começou a jogar torneios de alto nível em 2005. Desde então, não para de vencer. Vamos a alguns números do espanhol nos 4 torneios mais importantes no saibro (Roland Garros, Monte Carlo, Roma e Hamburgo, que foi substituído por Madrid).

Torneios Disputados - 23
Títulos - 19 (5x Roland Garros, 7x Monte Carlo, 5x Roma, 1x Hamburgo, 1x Madrid)

Jogos Disputados - 122
Vitórias - 118
Derrotas - 4 (Final de Hamburgo em 2007 para Roger Federer / 1ª rodada de Roma em 2008 para Juan Carlos Ferrero / 8ªs de final de Roland Garros em 2009 para Robin Soderling / Final de Madrid em 2009 para Roger Federer).

Desde o início do ano de 2010, foram 5 torneios de alto nível no saibro jogados, com 5 títulos. 27 jogos, 27 vitórias e apenas 3 sets perdidos.

O jogador mais próximo de Nadal no saibro, atualmente, é o também espanhol David Ferrer. Mas mesmo Ferrer não consegue ser páreo para o compatriota.

Quem conseguirá derrotar Nadal no saibro?

Não é à toa o apelido de Raging Bull, numa alusão ao filme O Touro Indomável, de Martin Scorsese. São raras as vezes em que se terá a oportunidade de ver Rafael Nadal ser derrotado, mas, mesmo quando isso acontecer, você não o verá cair.

sábado, 23 de abril de 2011

Sua Santidade Pixinguinha

Queridos (poucos) leitores, peço desculpas pela "escapada". Pela ordem, essa postagem deveria ser sobre tênis, já que a primeira foi sobre cervejas e a segunda sobre samba. Porém esta será uma postagem extraordinária. Prometo que dificilmente sairei da ordem, como hoje.

O motivo dessa "escapada" de roteiro se chama Alfredo da Rocha Viana Filho, aniversariante do dia 23 de abril (assim como meu querido irmão Breno Scorza). Nascido em 1897, o vulgo Pixinguinha estaria hoje completando 114 anos. Não é por acaso que o Dia Nacional do Choro é comemorado em 23 de abril.



Flautista, saxofonista, compositor e um dos maiores arranjadores brasileiros. Integrou conjuntos famosos e importantes da primeira metade do século XX, como o Caxangá, os Oito Batutas e o Regional Benedito Lacerda. Criou arranjos avançados e inovadores para intérpretes de peso, como Mário Reis e Chico Alves. Compôs choros imortalizados, como Carinhoso, Um a Zero, Lamentos, Naquele Tempo, Sofres porque queres.

Pixinguinha elevou a música popular brasileira a um nível de erudição quase que inimaginável. Improviso, arte, técnica, tudo junto. Seu nome ficará gravado para sempre no espaço dos "sobre humanos", aqueles que fazem acontecer o que parece ser impossível.

No link abaixo segue vídeo onde Pixinguinha é acompanhado por Benedito Lacerda, João da Baiana, Donga, Bide e outros. Relíquia sagrada.
http://www.youtube.com/watch?v=wrmR82_CnEA&feature=share

Vinicius de Moraes, com sua inteligência tamanha, sabe do que fala: "...Pixinguinha, eu acho que é o próprio Deus em pessoa. Pixinguinha é um santo. Se houvesse uma igreja brasileira, creio que Pixinga seria canonizado em vida."

Parabéns, grande mestre do choro. A música do povo agradece pelo toque divino.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cartola e o Feriado na Roça

Aqui segue minha primeira postagem sobre samba... haja responsabilidade! Pra começar: Cartola!

Quando se fala em Angenor de Oliveira, o Cartola, pensa-se no lado carnavalesco ou então no lado harmonioso e melodioso dele. Não é para menos.
Cartola foi um dos fundadores de uma das mais importantes e tradicionais agremiações do carnaval carioca, a Estação Primeira de Mangueira, em 1928. Para a Mangueira Cartola dedicou boa parte de sua vida, compondo sambas de terreiro e sambas de enredo. Foi campeão com a verde e rosa por várias oportunidades.
Cartola também compôs sambas antológicos, lembrados até hoje, os quais o configuram como um dos maiores sambistas que já existiram. Em minha humilde opinião, o 2º maior.



Mas não estou aqui para falar do que é conhecido no Cartola, mas sim do que é surpreendente nele.
Poucos foram aqueles que conseguiram fazer arrepiar tanto quanto Cartola. Jogar emoções numa música com tanta simplicidade, sutileza e verdade não é pra qualquer um. E é nesse sentido que escrevo sobre a música "Feriado na Roça", para mim uma das mais bonitas dele. O mais incrível é que é uma canção, não é um samba.

Cartola conseguiu colocar numa mesma música uma série de sentimentos, sempre com a mesma voz calma. Seguem-se surpresa, felicidade, ansiedade, decepção, tristeza, ódio, insanidade e indiferença, nessa ordem. Tudo isso em breves 2 minutos e 35 segundos. Para ouvirem e constatarem, segue o link abaixo. É só procurar a música Feriado na Roça e clicar para escutar (é a 3ª música da lista).

http://www.radio.uol.com.br/#/artista/cartola/1784

É por músicas como esta que Cartola foi um ser incomparável. Beleza sublime. O resto é cópia, das mal feitas!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Belo Horizonte - Frei Tuck

Embalado pela iniciativa do meu grande amigo Bernardo Piñeiro, começo a escrever por aqui.
Já que a iniciativa foi tomada ontem à noite, nada melhor do que começar escrevendo já hoje.
Aproveitando a estadia na aprazível cidade de Belo Horizonte (a trabalho, é claro), escrevo a primeira postagem sobre cervejas... visitei o bar Frei Tuck, dica tirada de sites especializados em cervejas especiais e importadas.

Localizado em esquina agradável. A iluminação é baixa e as paredes são todas em madeira, trazendo um ambiente obscuro. O rock tocando em volume absurdamente alto foi o único ponto negativo do lugar.

Iniciei com um chop Wäls Quadrupel. Delicioso. R$10 muito bem pagos.
Para petiscar pedi um mix de lingüiças (vitela e lombo). R$22 para um petisco bem servido, bem apimentado e muito bem acompanhado por dois tipos diferentes de mostardas.
Em seguida fui para os chopes da microcervejaria Küd Bier. O primeiro foi o Witbier. Definitivamente Witbier não é meu tipo favorito de cerveja, haja visto que não gosto da tão falada e conhecida Hoegaarden. Tem leveza em demasia, um gosto suave de tangerina lá no fundo que não consegue salvar o quase aguado desse chope. R$3,90 – pelo menos não foi caro.  O segundo pit stop foi o Kashmir. Esse sim! Malte pouco torrado, amargor interessante e espuma que deixa aquele gosto de “quero o próximo gole”. Muito bom, extremamente recomendado. R$4,90 muito bem alocados.
Pra terminar a noite na capital mineira, nada melhor do que prestigiar o estado mineiro com a pedida de uma Backer de trigo. Certamente as cervejas de trigo são as que mais me agradam e o fim da noite no Frei Tuck estava pedindo uma nesse estilo. Cerveja suave, com aromas frutados, muito gostosa. Recomendada. R$7.90 muito bem gastos.
Enfim, uma noite muito agradável. Agora é hora de dormir porque amanhã tem trabalho pra fazer...

Segue a dica: Frei Tuck - Avenida do Contorno, 5757 - Savassi - Belo Horizonte - MG