sábado, 2 de julho de 2011

A Banalização do Samba

O termo samba hoje é que nem "coisa", serve para caracterizar todo e qualquer som oriundo de um grupo de pessoas tocando cavaquinho, pandeiro e outros instrumentos mais.

Qualquer grupo de pagode dos mais xexelentos acopla o termo samba ao seu nome, tem até grupo de axé colocando samba no nome. Talvez isso seja resultado da proliferação quase que em escala de mitose que existe  entre esses grupos. Sendo assim, fica muito difícil achar um nome decente, então eles seguem com um nome indecente mesmo.

Mas o que é o samba? Qual diferença entre samba e pagode? Onde fica o limite entre o samba e o pagode?
A resposta é simples. Se você conhece o samba e a sua história, suas glórias e seus compositores, suas lutas, seu fundamento e seus intérpretes, samba e pagode são a mesma coisa. Se você não conhece nada disso e acha que a Beth Carvalho é a madrinha do samba e é o máximo de "raiz" que você consegue chegar, então, pra você, tem muita diferença entre samba e pagode.

Quem abrir o dicionário em busca do significado real de pagode irá encontrar algo do gênero: farra, divertimento, reunião musical, etc. Ou seja, qualquer reunião onde haja música e alegria é pagode, seja ela uma reunião de samba, jazz, rock ou sertanejo - é pagode!

Quem abrir o dicionário em busca do significado de samba irá encontrar coisas como: dança africana comum no  Brasil, ritmo musical e cultural brasileiro, etc. Ou seja, tem história, não brotou hoje no rádio (aliás, no rádio é quem não tem mesmo hoje em dia), tem tradição, é cultura.

Resumindo, eu posso chamar uma roda de samba de pagode, mas você que não entende lhufas disso, não. Você não pode! Você tem a obrigação de chamar de roda de samba. Nada de sambinha, isso é coisa de Zona Sul e Lapa. É samba!

Mas tome cuidado! O contrário não é válido. Uma roda de pagode não pode ser chamada de roda de samba, isso é um pecado crucial, cometido por muitos. Mas como saber? Realmente é muito subjetivo, quem conhece sabe diferenciar facilmente, mas quem não conhece acaba sendo enganado pelos falsários.

Um técnica infalível é olhar para os instrumentos musicais. Tem banjo, reco-reco de metal ou repique de mão? É pagode! Perigo! Sai fora daí! Tem tantã, pandeiro de nylon e chocalho de ovinho? Sinal amarelo, preste atenção! Isso pode ser apenas um desavisado com um instrumento errado dentro de uma roda de samba. Esse sujeito pode te assolar a noite inteira.

Outra técnica infalível é a vestimenta dos músicos. Calças rasgadas, gel no cabelo, uniforme igualzinho? Fuja! Chapéu Panamá? Idem ao sujeito do chocalho do ovinho. Tome muito cuidado com esse sujeito. O que acontece em 95% dos casos é que esse cara não sabe nada de samba, mas finge ser sambista desde criança. Se perguntar quem foi Noel Rosa pra ele é capaz dele achar que é só um túnel em Vila Isabel... nos outros 5% dos casos, esse cara pode ser um malandro de verdade e muito respeitado. Por isso, analise bem.

Começou a tocar o samba. A primeira música é do Cartola. Opa! Bom começo. Mas cuidado, não se engane. A próxima pode ser do Negritude Júnior. Não, eu não estou exagerando. Presenciei exatamente isso ontem na Lapa. Onde mais poderia acontecer tamanha atrocidade? Coitado do Angenor...

Portanto, se você quer conhecer o samba, procure alguém que conheça. Não entre em "sambas" sozinho. É perigoso. Você pode comprar gato por lebre e sair achando que Fundo de Quintal é samba. Tem muito impostor por aí.

Dicas certas são procurar por rodas lideradas por Teresa Cristina, Alfredo Del Penho, Pedro Miranda, Pedro Amorim, Pedro Paulo Malta e alguns outros. O Trapiche Gamboa é ótima pedida e o Samba da Ouvidor é a melhor roda de samba do Rio de Janeiro. Mas, por favor, só vá ao Samba da Ouvidor se você quiser realmente escutar o samba e entender mais sobre ele. Não vá só pra beber e fazer uma "pré night". Seja consciente e deixe quem gosta de samba apreciar o samba. Não atrapalhe o programa dos outros.

Um beijo revoltado,

Guilherme Bieler