segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Momento supremo de um cervejeiro

Sabe aquele momento que fica guardado pra sempre na memória? Por mais tempo que passe, às vezes ele volta ao pensamento e é praticamente possível reviver aquele momento apenas na lembrança...

Para um flamenguista, esse momento pode ser o gol de falta do Pet. Para um tricolor, o gol de barriga do Renato e por assim vai. Usei essa analogia somente pra ficar mais fácil de imaginar a força do momento que estou aqui tentando descrever. Para um apreciador de cervejas, esse momento é dar um gole na inesquecível Westvleteren Abt 12.

Sem entrar em grandes volteios históricos, a Westvleteren é uma cerveja produzida na abadia trapista de Saint Sixtus of Westvleteren, localizada na cidade de Vleteren, oeste da Bélgica, próxima à fronteira com a França. As abadias são monastérios, onde, obviamente, vivem os monges, que produzem e vendem cervejas e queijos como forma de sustento do monastério. Ser uma abadia trapista significa ter um selo de qualidade, existem somente 7 abadias trapistas no mundo* (6 na Bélgica e 1 na Holanda), informando que aquela cerveja foi produzida por um desses poucos monastérios.
*Recentemente foi veiculada a criação da oitava abadia trapista, esta localizada na França.

A abadia Saint Sixtus tem 3 tipos de cerveja: Westvleteren Blone (ou 6), Westvleteren 8 e Westvleteren 12. A diferença de característica entre elas se dá pela coloração (que vai escurecendo) e graduação alcoólica (que vai aumentando). Porém, mesmo que as 6 e 8 sejam muito elogiadas e bem conceituadas, a grande estrela é mesmo a Westvleteren Abt 12.

A primeira impressão da cerveja é essa da imagem acima. Não há rótulo! Realmente não há. A única coisa que identifica essa cerveja é a tampinha, amarela, com a marca da abadia e a numeração da cerveja. As outras 2 cervejas da Westvleteren possuem tampinhas de coloração diferente: verde para a 6 e azul para a 8.


Fui ao Delirium Café** decidido a tomar a Westvleteren Abt 12, após muito ler e ouvir sobre ela. Cerveja elogiada por todos que a provaram, presente no topo de todos os rankings sobre cerveja. Será que era isso tudo mesmo? Estava disposto a pagar pra ver. Literalmente. A simpática garrafinha sem rótulo e com sua charmosa tampinha amarela, contendo singelos 330ml, custa a bagatela de R$170. Mas eu precisava, era uma questão de honra. Não me sentiria um bom bebedor até que cometesse esse "pecado".
**Delirium Café - localizado na Rua Barão da Torre, 183 - recentemente ganhou merecidamente o prêmio da Veja Comer & Beber como melhor carta de cervejas do Rio de Janeiro.

Após levar o susto do preço e o susto da garrafa sem rótulo (é um susto para um colecionador de rótulos, vai?), era chegada a hora. Sério, eu estava ansioso, de verdade, senti frio na barriga e tudo...
Após vertido o líquido viscoso nos 3 copos (claro que eu dividi esse "prejuízo" com os amigos Gabriel Cavalcante e Ricardo Brigante), o cheiro já se espalhava pelo ambiente, nem precisava chegar perto.


Não vou também entrar em grandes detalhes sobre o gosto dessa cerveja porque a complexidade é imensa. A cada gole que eu dava, era um novo gosto que eu sentia, cada ingrediente, cada componente. O que exatamente? Não sei. Sei que tinha caramelo, tostado, frutas vermelhas, mas o resto não sei... O que eu sei é que toda vez que lembro dessa cerveja, que vejo uma foto, um comentário, eu sinto o gosto dela na minha garganta. Uma coisa incrível, um momento inesquecível e um sabor também inesquecível.

Sem sombra de dúvidas é a melhor cerveja que eu já bebi. Guardo com afinco sua tampinha em meio à minha coleção de rótulos. É a única exceção, mais do que justa, necessária. O dinheiro? Sim, foi bastante, acho que não faria novamente essa loucura, mas valeu. Com certeza, valeu!

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